Resenha: Divergente

sábado, 27 de setembro de 2014
Divergente




Autora: Veronica Roth
Editora: Rocco
Número de páginas: 500

Sinopse:

"Numa Chicago futurista, a sociedade se divide em cinco facções – Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição – e não pertencer a nenhuma facção é como ser invisível. Beatrice cresceu na Abnegação, mas o teste de aptidão por que passam todos os jovens aos 16 anos, numa grande cerimônia de iniciação que determina a que grupo querem se unir para passar o resto de suas vidas, revela que ela é, na verdade, uma divergente, não respondendo às simulações conforme o previsto. A jovem deve então decidir entre ficar com sua família ou ser quem ela realmente é. E acaba fazendo uma escolha que surpreende a todos, inclusive a ela mesma, e que terá desdobramentos sobre sua vida, seu coração e até mesmo sobre a sociedade supostamente ideal em que vive."

Minha opinião:

Eu ganhei este livro num sorteio e por mais que eu conferisse maravilhas sobre ele nos diversos blogs que visito eu não tinha ficado com aquelaaa vontade de ler, mas como ganhei o livro decidi conferir.

Quando comecei a ler, achei ele bom, apenas isso, uma história diferente, um cenário simples até, porém conforme eu fui lendo mais e mais capítulos eu simplesmente me apaixonei!

A história se passar numa época em que a sociedade se divide em cinco facções, isso já eu achei diferente e interessante. Depois foi ver uma jovem simples que nada tinha que se destacasse entre as pessoas com as quais ela convivia, de repente virar a personagem que está praticamente liderando uma grande mudança (mas isso no final do livro e que mudança claro que não falo, hehe). Mas como eu estava falando...foi interessante ver a força crescendo dentro de uma personagem que no início do livro nem de longe mostrava que tinha e talvez ela realmente não tinha.

Quantas vezes a força surge em nós justamente quando pensamos que não somos capazes? Pois é mais ou menos isso que acontece com a personagem, e tudo isso porque ela tomou uma decisão no início da história. No inicio do livro ela tem que tomar uma decisão, decisão que ela toma sem ter muita certeza, sem saber que é a certa, mas graças a essa decisão ela descobre muitas coisas feitas por pessoas poderosas (que nem sempre agem de forma justa). Porém essas pessoas poderosas descobrem o que ela descobriu e aí....aventura,ação pura!!! E nessa ação o crescimento de uma jovem que não sabe o poder que tem.

Esse livro eu li muito rápido e quando terminei eu queria porque queria a continuação, livro este que quero muito! Me apaixonei por esta história, livro que entrou para meus favoritos!!! Livro que com certeza daria um maravilhoso filme.

E vocês? Já leram? O que acharam? Já viram o filme?

OBS: esta resenha é uma republicação aqui do blog Trilhas Culturais.

O Poema Inspirador de Rudyard Kipling

quinta-feira, 25 de setembro de 2014
                     

     Rudyard Kipling é um autor e poeta nascido em Bombaim, Índia britânica em 30 de Dezembro de 1865. Morreu aos 70 anos no Reino Unido, sendo considerado o maior inovador na arte do conto curto. Rudyard foi um dos mais populares escritores da Inglaterra tanto em prosa quanto em poema. Em 1907, recebeu o Nobel de Literatura, tornando-se o primeiro autor de língua inglesa a receber este prêmio.
    O "Livro da Selva" é uma obra de Kipling adotada por Robert Baden-Powell, o fundador do Escotismo, como inspiração para as atividades de jovens entre sete e onze anos, denominados "lobinhos" no Escotismo.
      Um de seus poemas mais conhecidos é o "If" (Se), valorizado pela maturidade e sabedoria dos versos além do teor humanitário capaz de tocar o leitor. Este poema tornou-se símbolo dos Cadetes na Academia da Força Aérea.


     
    Este poema me transmite uma grande paz e eu costumo ler esses versos sempre. Tanto nos momentos tristes quanto nas horas felizes, este poema costuma ser meu amigo pela inspiração que os versos transmitem.  Somos humanos, sentimos alegrias, tristezas, raivas, entusiasmos, decepções e euforias de acordo com a vida. Mas, às vezes, independentemente das alegrias e tristezas, temos que seguir adiante. Assim, quando eu penso em desistir eu leio estes versos:

"Se puderes obrigar o coração e os músculos
                                              A renovar um esforço há muito vacilante,
                                           Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
                                                 Só exista a vontade a comandar: Avante..."


        Segue abaixo um dos meus poemas favoritos, e um dos mais inspiradores que já li:

   
Se...





Se podes conservar o teu bom senso e a calma

                                           Num mundo a delirar para quem o louco és tu...

                                           Se podes crer em ti com toda a força de alma

                                            Quando ninguém te crê...Se vais faminto e nu,



                                                Trilhando sem revolta um rumo solitário...

                                             Se à torva intolerância, à negra incompreensão,

                                               Tu podes responder subindo o teu calvário

                                            Com lágrimas de amor e bençãos de perdão...


                                                   

                                                   Se podes dizer bem de quem te calunia...

                                                  Se dás ternura em troca aos que te dão rancor

                                               Mas sem a afectação de um santo que oficia

                                           Nem pretensões de sábio a dar lições de amor...

                                                 Se podes esperar sem fatigar a esperança...



Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...

                                               Fazer do pensamento um arco de aliança,

                                            Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

                                                   Se podes encarar com indiferença igual



O triunfo e a derrota, eternos impostores...

Se podes ver o bem oculto em cada mal

E resignar sorrindo o amor dos teus amores...

Se podes resistir à raiva e à vergonha


De ver envenenar as frases que disseste

E que um velhaco emprega eivadas de peçonha

Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,


Vaiadas por malsins, desorientando o povo,

E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,

Voltares ao princípio a construir de novo...


Se puderes obrigar o coração e os músculos

A renovar um esforço há muito vacilante,

                                         Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,

                                                Só exista a vontade a comandar: Avante...

                                             Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...



                                           Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...

                                              Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre

                                                 São iguais para ti à luz da eternidade...

                                          Se quem conta contigo encontra mais que a conta...

 


                                                Se podes empregar os sessenta segundos

                                               Do minuto que passa em obra de tal monta

                                            Que o minuto se espraie em séculos fecundos...

                                             Então, oh ser sublime, o mundo inteiro é teu!



                                              Já dominaste os reis, o tempo e os espaços!

                                             Mas, ainda mais além, um novo sol rompeu,

Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,



Sem receares jamais que os erros te retomem,

Quando já nada houver em ti que seja humano,

Alegra-te, meu filho, então serás um Homem!...”

"If..." - Rudyard Kipling

Félix Bermudes(tradutor)

Excelente semana a todos!

Abraços!

Taty Casarino

http://tatycasarino.blogspot.com.br/

Resenha: Confusões em Paris

segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Confusões em Paris




Autora: Vanessa Sueroz
Editora: Ixtlan
Número de páginas: 220


Este livro eu recebi por booktour e confesso: me apaixonei de cara pela capa super fofa!!! O livro é lindo, a história é apaixonante e super divertida e eu li ele em duas tardes.

A história fala de um grupo muito animado de amigos: Paty (a personagem principal e a mocinha pendurada no ombro do rapaz aí na capa), Gabriela, César, Jonas, Samuel, Ricardo Souza, Alice, Paulo, Tainá. Espero não ter esquecido de ninguém, hehehe.

O que acontece na história é que por motivos que ficamos sabendo só no final do livro, os amigos aí da Paty a sequestram e a levam para Paris. Ela só se dá conta que está indo pra lá no avião.

Em Paris em meio a muita bagunça entre os quartos que os amigos estão divididos, em meio á váriossss passeios e situações muitooo engraçadas, essa turma aí se diverte e o clima de romance entra no ar para todos, quer dizer, quase.  Paty gosta de alguém, todos vêem isso, exceto ela. Seus amigos tentam dar uma forcinha para ela ver, e isso causa muitas situações cômicas! Se ela consegue ver que gosta de certo alguém....só lendo o livro.

Pessoal: fazia tempos que eu não me divertia tanto ao ler um livro. Superr recomendo a leitura, o livro é de leitura leve, gostosa e super rápida. Dei muitass risadas durante a leitura.

Quero dar os parabéns à Vanessa pela história tão gostosaaa!! Quero ter amigos assim também!! Hehehehe.

Confiram também o blog da autora: http://blog.vanessasueroz.com.br

OBS: esta resenha é uma republicação aqui do blog Trilhas Culturais.

Resenha: Guardians - Volume 1

sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Guardians - Volume 1





Editora: Lexia
Número de páginas: 360

Este livro chegou de booktour bem no início da criação do Trilhas. A autora Luciane Rangel aliás foi a primeira autora a se tornar parceira do Trilhas, o que tenho muito a agradecer.

Depois que li o volume 1 de Guardians...tenho apenas uma coisa a dizer: certooooooo que vou comprar todos os volumes dessa série... preciso desses livros!!

Já deu para perceber que adorei o livro, mas minhas primeiras impressões não foram sempre tão positivas. Quando comecei a ler resenhas de Guardians vi que o livro era bom, que estava conquistando muitas pessoas, masss eu, Fernanda, não tinha certeza se ia gostar.  Resolvi participar do booktour com o propósito de conhecer finalmente o primeiro livro e de uma vez por todas tirar as dúvidas se eu ia ou não virar uma fã dessa série.

Logo que comecei a ler o livro, comecei a ver que não era apenas uma história de heróis que representam os signos do zodíaco, mas sim uma história que mostra que todos podem ser heróis.

No livro cada guardião tem suas qualidades e defeitos, cada um representa um signo, cada um contribui na história com suas experiências de vida. Cada um deles "entra" na história de uma forma, aos poucos. Cada um possui um passado que é relatado no momento certooo, aliás cada novo fato é contado no momento certinho, o desenvolvimento da história se dá de forma que cada nova informação fica bem entrelaçada com o restante da história.  O livro nada tem de defeito gritante, tudo é conduzido da melhor maneira possível.

Bom, após os capítulos onde cada guardião é apresentado e relatada a forma como se encontram, é iniciada a parte mais....digamos...agitada da história, mas essa parte tem apenas uma introdução, o que deixa claro que no livro 2 que sim, estarão as partes mais agitadas da história, hehehe.  Forças do mal querem invadir a Terra, e está nas mãos de todosss os guardiões a proteção da Terra. Nesse primeiro livro, é apresentado o problema, quem é a força do mal e quem são os guerreiros que vão lutar para manter a paz no mundo.  Mas não pensem que não há cenas de luta...há sim...os guardiões já começam a ter que colocar em prática o treinamento que receberam.

Depois de ter terminado este livro a única coisa que eu queria é ter os outros volumes para saber o que vai acontecer, simplesmente eu virei fã de Guardians.  E uma das coisas que mais me chamou a atenção nesse livro é que a "paz do planeta" não está nas mãos apenas de uma pessoa, mas sim nas mãos de váriassss pessoas, todas com responsabilidades iguais. Nenhum herói é perfeito, todos tem suas qualidades e defeitos, todos tem uma bagagem de vida, todos dependem da ajuda de todos para que sua parte seja bem feita.

Eu referenciei muito isso ao nosso dia a dia, onde todos nós precisamos sempre de alguém, por exemplo: precisamos do plantador láaa do interior para que tenhamos produtos nos supermercados, precisamos do pessoal que trabalha nos supermercados para que possamos adquirir esses produtos, precisamos do dinheiro que ganhamos no nosso trabalho, o qual existe graças a alguém que resolveu abrir aquela empresa na qual trabalhamos...

A idéia que não estamos sozinhos no mundo e que precisamos da ajuda das outras pessoas ficou muito clara para mim neste livro. Portanto leitores do Trilhas, este livro não é apenas uma história de super heróis, mas sim uma história de fantasia muito próxima a realidade.

Quero dar os parabéns a autora Lucy Rangel: seu livro realmente me conquistou!!

OBS: esta resenha é uma republicação aqui do blog Trilhas Culturais.

Interpretando Tabacaria

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

   Olá, pessoal! Quinta-feira passada eu publiquei na coluna poética o poema Tabacaria de Fernando Pessoa. Vou agora nesta postagem destacar alguns elementos principais:
 

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.




     Essa primeira estrofe resume toda a essência do poema: Álvaro de Campos (heterônimo de Pessoa) sente-se como se fosse nada, não dá valor ao seu Ser material, de carne osso, real, eis que este é efêmero, mortal e também não deve ser grande. No entanto, carrega dentro de si (alma) os sonhos do mundo --valorização do mundo etéreo, sentimental, do mistério e da metafísica. Isto pode ser melhor elucidado pela seguinte estrofe:

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.




      Nos dois últimos versos desta estrofe, pode-se observar que a Tabacaria que ele olha através da janela é a coisa "real", considerada real, fora dele, presente no mundo, no entanto, seu sonho é o que realmente é real para ele em seu íntimo. Podemos notar aqui uma sensação de inadequação em relação ao mundo exterior, um sentimento de incompreensão, de alguém que pensa muito além e que vê muito além do mundo do aqui e do agora. Isto pode ser justificado por Pessoa ter sido um gênio incompreendido e uma personalidade complexa, como a de quase todo gênio.


  
    Sabe-se que, embora um de seus heterônimos fosse ateísta, o Alberto Caeeiro (aquele sem metafísica, naturalista) representando o inconsciente coletivo cientificista da época em que Pessoa viveu, o poeta tinha fortes tendência místicas, visto que tinha vínculos com misticismo, escrevia para jornais e revistas sobre temas metafísicos, acreditava na astrologia e fazia os mapas astrais de seus heterônimos, além de ter sido um dos tradutores da obra "A voz do Silêncio" da esotérica Helena Blavatsky. Porém, Pessoa nunca assumiu sua afeição por teosofia por medo de desaprovação assim que Blavatsky foi acusada de farsa pela comunidade científica da época.
    Fernando Pessoa sofria de perturbações mentais e dizia precisar de uma "âncora" que conseguisse prendê-lo na terra, pois sua mente estava sempre agitada, em alta velocidade, pensando em outros mundos.

    Álvaro de Campos era seu heterônimo mais passional, ou seja, nas palavras de Pessoa, "o mais histericamente histérico de mim" demonstrando sua veia mais emocional. Ele dizia que se fosse uma mulher, sua histeria acabaria em uma expressão de escândalo, perturbando os vizinhos. Como era homem, tudo terminava em silêncio e poesia. As suas perturbações mentais podem ser encontradas nesse trecho:

Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!


Fernando Pessoa, durante algumas vezes em sua vida, pediu para ser internado a fim de tratar de suas perturbações mentais. Sua sensação de alienação, de falta de identificação com o mundo, como se ele fosse um estranho, um estrangeiro aqui pose ser observado nesse trecho:

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.


Ele, embora possa, em seu íntimo, identificar-se mais com o metafísico do que com o real, não demonstra orgulho, pois sabe que sua poesia não é mais importante que a Tabacaria do outro lado da rua, eis que tudo é mortal:

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendido.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.


Ele também demonstra uma afeição pela realidade. Por que divagar tanto na metafísica? Às vezes comer um chocolate pode ser uma grande metafísica. Será que as coisas reais também podem ser uma expressão do mistério? A simplicidade explica aquilo que nem religiões podem explicar....
Veja o trecho abaixo:

Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.




É como se Pessoa ficasse divagando em metafísica, mas ao observar a Tabacaria, ela é a "âncora" que consegue trazê-lo à realidade:

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.




   Esteves deve ser um cliente da Tabacaria, um homem mais materialista e que não gosta de filosofar em metafísica. Quando o Esteves acena para ele, a realidade também acena para Pessoa, o universo se reconstrói sem ideal, ele volta par a vida real, esta vida que tem uma Tabacaria, e o dono da Tabacaria sorri.

Excelente semana a todos!

Abraços,

Taty Casarino

http://tatycasarino.blogspot.com.br/




Tabacaria de Fernando Pessoa

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

TABACARIA


                 
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

             Álvaro de Campos é o heterônimo (personagem poético) mais passional de Pessoa. Segundo o poeta, ele era "o mais histericamente histérico de mim". Tabacaria é um dos poemas mais reconhecidos do poeta português e um dos meus favoritos também.

         Excelente semana a todos!

Abraços,

Taty Casarino

http://tatycasarino.blogspot.com.br/

Mudanças

quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Mudanças...

Nesse ano minha vida ganhou luz e eu conheci alguém que enriqueceu minha vida com pensamentos, sugestões, dicas. Ao lado dessa pessoa me senti nas nuvens, me enxerguei melhor, vi com mais clareza quem é a Fernanda e do que ela gosta. Incrível como, às vezes,  precisamos da simples presença de outra pessoa para enxergar melhor nós mesmos. Acredito que essa pessoa me despertou de um sono profundo e eu comecei a ver que o tempo estava passando e eu não estava vivendo de fato.

Mas nem tudo foi maravilhoso, passei por períodos doloridos, confusos, períodos que eu achei que não ia mais conseguir seguir em linha reta, e quem precisa andar em linha reta né? Mas essa fase ainda não acabou completamente, estou tentando seguir adiante mesmo que as coisas não tenham dito ido para o caminho que eu desejava.  Nem tudo esta sendo do jeito que quero, mas confio em Deus e coloco nas mãos dele meu destino. Descobri outros mundos que estavam dentro de mim mas que eu não os encontrava, a simples presença dessa pessoa me ajudou a achar mundos dentro de mim que eu desconhecia que existiam. 

Enfim, muita coisa mudou em mim, amadureci, me conheci melhor. Mudanças... Por isso que por mais que eu tenha reativado o blog eu não estava aqui de fato, devido à tudo isso que ocorreu. Não queria estar aqui apenas por estar, queria estar aqui de corpo e alma, gerando conteúdo legal, interessante e engraçado, vocês merecem. E como eu ia estar aqui se eu mesma estava me redescobrindo?  Não reclamo das tantas horas que chorei, que fiquei com o coração apertado, não reclamo das surpresas que eu tive e que eu nem imaginava, não reclamo de ter me entregado de corpo e alma...sou assim...ou era... Enfim, não reclamo ... 

Sempre vivi me entregando de corpo e alma para tudo e todos, sempre fui de colocar tudo e todos em primeiro e segundo lugar... eu achava que isso era ser uma boa pessoa. Não importava se eu não estava bem, eu queria ver os outros felizes, queria ajudar os outros. Mudei... hoje me tornei mais egoísta, uma egoísta que se coloca em primeiro, segundo e terceiro lugar.... uma egoísta que vai pensar em si primeiro para depois pensar nos outros... afinal, como ajudar as pessoas ao redor se nós mesmos não estamos bem? Impossível.  Adoro ajudar as pessoas sim, a enviar carinho, mas antes delas quero me ajudar, quero me tratar com carinho...eu e eu mesma primeiro. Obrigada Pocotó (nome fictício para a pessoa que me fez enxergar que ser egoísta não é ruim), obrigada pelo que aprendi com você, espero que tenha aprendido um pouquinho comigo também. 



Hoje sei o que quero profissionalmente: decidi seguir a área de banco de dados. Será uma longa caminhada, afinal, tenho que relembrar os conceitos básicos que aprendi na faculdade e tenho que me inteirar do que esta acontecendo hoje no mundo nessa área. Mas decidir e saber o que queremos é ótimo!! 

Sei o que quero em nível "auxiliar", que na verdade esta sendo minha prioridade já que termino meu curso nesse ano: quero melhorar meu inglês e deixar de ser uma péssima, preguiçosa e desanimada aluna. Nas minhas férias, numa praia que fui no Paraná me deparei com um estrangeiro e eu era a única pessoa no momento que tinha noção de inglês portanto tive que tentar me virar com minha falta de responsabilidade colocada em aula... e sabe que me virei legal? Fiquei orgulhosa de mim mesma!! Mas vi que se eu tivesse me dedicado mais às aulas e ao estudo do inglês em casa eu ia ter me virado muitooo melhor. Enfim, aprendi que nunca se sabe quando vamos nos deparar com um estrangeiro na frente e por isso quero investir nisso e me preparar melhor. Quem sabe um dia até dar aulas para não perder o contato com o idioma? :)

Também aprendi que nada como criar laços de amizade com pessoas especiais. Conheci melhor tantas pessoas legais na minha viagem e me aproximei de outras que já conhecia ...  Conheci lugares lindos e vi que basta querer para poder se aventurar mais na vida. Estou me descobrindo mais e mais e cada vez mais apaixonada por fazer trilhas, por natureza. Sempre gostei, mas acho que me apaixonei mais desde o momento que comecei a fazer mais.  Me descobri e estou me descobrindo melhor espiritualmente, estou aprendendo a ser mais razão, mais objetiva, parei de ser cricri com organização...o que der para arrumar arrumo, o resto paciência. Quero viver mais e pensar menos, quero ser livre. 

E aqui em Santa Maria, descobri que uma amiga especial era mais do que especial é amiga-gêmea... a nossa colunista Taty Casarino, voltei a ter contato com as brimas (farei post sobre elas), recomecei a falar com pessoas que eu tinha parado de falar. 

É pessoal, muita coisa aconteceu que nenhuma palavra vai conseguir transmitir à vocês a importância de cada sorriso que tive, de cada momento de choro, de cada momento de coração feliz, de coração apertado, de cada momento de agonia... ainda estou passando por momentos não tão bons, mas decidi não esperar mais. Queria vir aqui colocar esse post em um momento perfeito, quando eu estivesse 100% bem, mas quando isso vai acontecer? Porque não colocar agora e dividir com vocês meu trajeto rumo à melhora? 

Como disse, a minha fase triste ainda não passou completamente, ainda estou juntando uns caquinhos, estou colando um por um, mas aos poucos sei que vou me curar ... um dia me curo. 

Outra decisão minha é voltar a gerar conteúdo para o Trilhas, não sei com que ritmo, não sei de que forma, mas voltarei. Eu ia esperar me recuperar totalmente para voltar a gerar esse conteúdo, mas será que um dia eu estarei 100% recuperada? Decidi não adiar mais...vamos lá, vamos trabalhar para vocês, peço que apenas relevem se sentirem que não estou 100%.  Eu e a Taty vamos fazer vídeos, e a Fer Yano (que voltouuu ao Trilhas, todos gritam,: uhulllllllllllll) vamos nos dedicar para colocar mais conteúdo aqui. 

Conto com a ajuda de vocês para melhorar e sair dessa fase jururu minha e fazer do Trilhas um local bom para se estar. 

Mudanças...