Trilhas Pelo Mundo 3

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Cavaleiro Inexistente - Italo Calvino



Olá, hoje vou falar um pouco sobre um livro curtinho, mas que gera grandes reflexões: O Cavaleiro Inexistente. Primeiro um pouco sobre o autor:


Italo Calvino (1923-1985) é considerado um dos mais importantes escritores italianos do século XX, apesar de ter nascido em Cuba.
Ele participou da resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra mundial e juntou-se ao Partido Comunista Italiano em 1956, porém renunciou no ano seguinte (sua carta de renúncia ficou famosa).
Escreveu vários livros como O Barão nas Árvores, O Visconde Partido ao Meio, Por que ler os clássicos (se você cursa Letras, já teve que ler este livro), Se um Viajante Numa Noite de Inverno e aqui você pode encontrar os nomes de todos. Possui um estilo de narrativa sarcástico e bem humorado. Um autor que certamente vale a pena conhecer.



Título: O Cavaleiro Inexistente
Autor: Italo Calvino
Editora: Companhia de Bolso
Tradução: Nilson Moulin
Páginas: 120
Link do Skoob

 Sinopse: Uma freira confinada num convento cumpre a penitência de narrar a bizarra história de Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, cavaleiro que se distingue pela impecável armadura branca – e pelo fato de não existir. Por defender a virgindade de uma donzela, Agilulfo se tornou paladino de Carlos Magno, posição que exerce com seriedade extrema. Mas aquele feito heroico é posto em dúvida. Para comprová-lo, Agilulfo sai em busca de “uma virgindade perdida quinze anos atrás”, e no caminho viverá aventuras engraçadíssimas, dignas de um ótimo romance de cavalaria às avessas.



Minha Opinião:  Os livros de ficção que li do Italo Calvino sempre contam com o mesmo tipo de narrativa: eles são cheios de humor e sarcasmo e a história que ele nos conta pode ser considerada uma história dupla. Você pode interpretar ela de maneira linear ou aprofundar-se e tentar enxergar por trás da metáfora.



Este livro tem como personagem principal um cavaleiro que não existe propriamente, ele é somente uma armadura vazia que continua exercendo suas tarefas pela força de vontade. O cavaleiro inexistente está em uma divisão do exército de Carlos Magno e representa aquilo que um cavaleiro paladino tem de ser quando está usando a sua armadura: Ele é um cumpridor de regras, correto, representa a ordem, a perfeição e exerce de maneira impecável toda tarefa que lhe é atribuída. Inclusive senta-se à mesa com os demais cavaleiros e ocupa-se com a comida, mesmo que não possa comer, pois ele tem direito a um lugar à mesa e exerce todos os seus direitos, assim como suas obrigações.

No meio deles os olhos de Rambaldo procuravam algo: era a armadura branca de Agilulfo que ele esperava reencontrar, talvez porque sua aparição teria tornado mais concreto o resto do exército, ou então porque a presença mais sólida com que ele se deparara havia sido justamente a do cavaleiro inexistente.”
 
Ele não entende as questões sentimentais que movem os cavaleiros à luta, como acontece com o jovem Rambaldo que ingressa no exercito à procura de vingança e ao pedir orientação para Agilulfo, este lhe dá a resposta mais acadêmica possível.
Em contrapartida temos o escudeiro do cavaleiro inexistente que não possui um nome. Por cada lugar que passa ganha um nome diferente, porém todos o conhecem como aquele que não tem consciência de si mesmo. É um louco que existe mas não tem consciência disso.
Ainda temos Bradamante, uma amazona que ingressa na divisão por admirar as regras, a rotina, o rigoroso, exatamente por ela ser totalmente diferente disso. Procura essas características nos amantes que escolhe, ela mesma sendo o oposto e, se o companheiro demonstra qualquer intenção que denuncie o seu desejo, logo perde o interesse.


Torrismundo é aquele que procura o seu lugar no mundo, pois julga que um cavaleiro estragou-lhe os melhores anos de sua vida e ele precisa encontrar-se em meio a dúvida sobre a sua descendência. Através deste personagem é desmistificada toda a pureza e honra da nobreza, devido as tramoias das quais tomamos conhecimento.
E por último temos a narradora da história, a irmã Tereza, que explica estar escrevendo em seu convento como penitência. Com ela o autor demonstra o seu sarcasmo de maneira bem mais objetiva no trecho abaixo.


A narrativa conta várias verdades sobre a guerra, além de incluir personagens que são metáforas ambulantes. É dito o que realmente ocorria com os conventos em épocas de guerra e com os camponeses que deviam alimentar os soldados. Temos a grande busca por si mesmo, sendo que cada personagem procura algo diferente para poder se encontrar e acabam descobrindo que na maioria das vezes não são quem pensavam ser. Uma narrativa surreal.
Esta é uma leitura muito recomendada, super rápida e que, se não fizer o leitor refletir, vai diverti-lo com as trapalhadas do cavaleiro inexistente e do escudeiro que não sabe que existe.

E, como disse Italo Calvino: "A existir se aprende."


Fran.(Skoob)

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