Trilhas Pelo Mundo 11

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Precisamos Falar Sobre o Kevin - Lionel Shriver


 
Este é um livro que terminei e não consigo tirar da cabeça. Também preciso falar sobre o Kevin.


   Lionel Shriver: Nasceu em 1957, é uma jornalista e escritora americana. Precisamos Falar Sobre o Kevin foi rejeitado por pelo menos 30 editoras antes de conseguir ser publicado. O livro ganhou o prêmio Orange em 2005 na Grã-Bretanha. Aqui tem outras obras da autora, inclusive o recém lançado Grande Irmão.


Livro: Precisamos Falar Sobre o Kevin
Autor: Lionel Shriver
Editora: Intrínseca
Tradutor: Beth Vieira e Vera Ribeiro
Páginas: 464

SinopseLionel Shriver realiza uma espécie de genealogia do assassínio ao criar na ficção uma chacina similar a tantas provocadas por jovens em escolas americanas. Aos 15 anos, o personagem Kevin mata 11 pessoas, entre colegas no colégio e familiares. Enquanto ele cumpre pena, a mãe Eva amarga a monstruosidade do filho. Entre culpa e solidão, ela apenas sobrevive. A vida normal se esvai no escândalo, no pagamento dos advogados, nos olhares sociais tortos.
Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem.
Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o "sociopata inatingível" que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.


Minha Opinião: Este é um livro que não poderá ser facilmente digerido. Conhecemos a mãe de Kevin, Eva, enquanto ela escreve cartas ao marido para poder falar sobre a vida que tinham e como esta se tornou até chegar a quinta-feira, momento decisivo onde ocorreu a tragédia que abalou a sua vida.
Um romance epistolar muito bem construído abordando vários temas pouco utilizados como o fato de uma mãe ser capaz de não amar o próprio filho.
Em vários momentos o livro fica um pouco chato porque Eva está falando com o marido por carta, contando detalhes sobre seu modo de vida que podem não interessar ao leitor tanto quanto a história de Kevin, que só conhecemos por completo quase no final do livro, pois a ordem das cartas segue a cronológica na reconstituição do que aconteceu na vida desta família.

Através da narrativa temos uma visão completamente parcial sobre os acontecimentos, portanto tudo o que a narradora pensava é algo só dela. Mesmo que ela tenha percebido coisas no filho que o marido não percebeu, acredito que vários fatos relatados por ela não podem ser totalmente atribuídos a Kevin, pois afinal, ele era só uma criança e, a não ser que você leitor pense que a maldade pode já nascer com a criança, não há cabimento em algumas das paranoias de sua mãe. Porém existe muita verdade no que Eva nos conta, pois ela apresenta provas.
A grande questão do livro é que Eva não queria ter filhos. Ela ama seu marido e quer lhe dar um filho como presente, mas desde o momento em que começa a tentar engravidar ela já não quer realmente o bebê. Ela percebe que o bebê é um fardo e que corrompe a sua rotina. Quando Kevin nasce e ele a rejeita, não é mais do que a rejeição que ela mesma sentia desde a sua concepção. Isso levanta outra grande questão que é: O quanto os pais são responsáveis pelo que o filho se torna? E como quem não dá amor pode querer recebê-lo ou querer ensinar seu filho a demonstrá-lo?
Também o pai que idealiza o filho de uma forma tão consistente que não consegue enxergá-lo como ele é, pois só quer ver aquilo que planejou ver e ignora qualquer outra opinião que é apresentada. Essa atitude pode facilmente ser confundida com amor, mas não é. Um pai que deixa um filho sem punição não é pai, é cúmplice. Esse pai não ama, só ignora no filho aquilo que não se encaixa em sua idealização.

No Brasil a onda de massacres em escolas não foi grande, mas nos EUA isso se tornou moda e acredito que um livro que trate tão profundamente do tema entrando na vida de uma dessas crianças (mesmo que fictícia) tenha ajudado algumas pessoas a compreenderem um pouco mais. Vários casos famosos são comentados durante a narrativa e a quantidade é alarmante. E é assustador ver quais foram as medidas tomadas para tentar proteger as escolas disso. Medidas extremistas que só poderiam gerar mais ódio.

Durante a narrativa tive a impressão de conhecer o Kevin, de entender um pouco suas motivações para tomar tal atitude e odiar a mãe - como disse que odiava quando ela o visitou na prisão. Porém até chegar ao final da leitura tudo aquilo que achei que sabia sobre ele desmoronou ao perceber a gravidade de seus atos, já que a quinta-feira em que o crime aconteceu só é totalmente descrita no final.

Este livro é recomendado para todos que gostam de ter os meios para fazer sua própria análise psicológica, já que ela aqui não vem pronta. Para quem tem curiosidade para saber como um daqueles garotos Comlumbine (Kevin não gostaria desta expressão) se comporta e o que o leva ao extremo de realizar uma chacina.
Não é recomendado para quem não gosta de ficar com um livro na cabeça após terminar a leitura, porque não consigo parar de falar sobre o Kevin.

Minha opinião sobre o livro é basicamente a citação escolhida pela autora e colocada na página antes da primeira carta começar:
"É justamente quando ela menos merece que mais a criança precisa do nosso amor." - Erma Bombeck


Até a próxima,
Fran.

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