Lágrimas de uma profana

quinta-feira, 2 de outubro de 2014





Eu nunca soube percorrer equilibradamente
o caminho entre o amanhecer e o entardecer.
Para mim, só há dia e noite,
dor e alegria, lágrima e poesia.

Tudo o que eu mais queria
era o crepúsculo da sabedoria.
Daria o meu ego, a minha ilusão
para beber do teu cálice eterno.

A luz da verdade
ilumina mil flores
que desabrocham coloridas
nos campos da sabedoria.

Minha cegueira é tanta
e hoje a noite e tão estrelada,
que eu posso ver a lua sob os pés de uma rainha
cuja coroa é feita de romãs.

Corta a minha venda,
esse véu que ilude meus olhos
e faça-me respirar o ar da verdade
até que minh'alma se ilumine.

Como um bebê que chora pela primeira vez
quando vê a luz, quando sente a luz,
após tantos meses no conforto da escuridão
de um útero encantado pela lua,
assim é o aprendiz quando deixa de ser profano.

Por que a primeira fase da alquimia
deve ser tão dolorosa como o chumbo?
A cruz de saturno jamais será mais bela
do que a luz dos raios de sol.

Eu sou uma profana que sabe
um pouco mais do que deveria saber,
mas ainda não o suficiente
para abrigar a paz de espírito perpétua.

Quando o meu chumbo será ouro?
Seria o sal das minhas lágrimas
necessário para tal alquimia
assim como a água deve estar no meu sangue?

Eu não consigo mais viver
com esta contradição na alma:
sofrimentos profanos desnecessários,
medos infundados e tanto conhecimento,
conhecimento de luz.

Por que minh'alma ainda sofre
se já conquistou tanta sabedoria?
Por que meus olhos estão ora iluminados
e ora estão novamente vendados?

Sou metade profana
e metade iluminada.
Sou aquela que ainda não atravessou
a porta da câmara de reflexão.

Tenho medo de jamais conseguir
a transmutação plena
ou de deixar meu ouro
sempre cair na terra.

Tudo o que eu mais queria
é a paz perpétua
e a aplicação constante
da sabedoria no dia-a-dia.

Por que choro ainda?
Porque ainda sou profana,
porque ainda não morri dentro de mim
para voar com as borboletas.

Eis as lágrimas de uma profana
regando as esperanças
das doçuras da lua
antes de o chumbo se transformar em sol.
Poesia de Taty Casarino
  Esse poema retrata os desafios e as dificuldades na busca da aplicação do conhecimento, a dualidade da vida, o equilíbrio tão difícil de ser alcançado e a meta de alcançar a evolução espiritual.
Uma excelente semana a todos e até a próxima quinta-feira, pessoal!
Abraços,
Taty Casarino
 

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