"O Tigre" de Blake e a nossa alma

quinta-feira, 23 de outubro de 2014
                            

  
    Tendo em vista a presença do misticismo nas ideologias e nas artes produzidas pelo poeta William Blake, o qual deixou um legado de obras na literatura e nas artes plásticas, é preciso interpretar os seus poemas com um olhar simbólico e espiritual, ultrapassando o sentido meramente literal de cada palavra.
     A figura do animal tigre pode simbolizar muitas coisas, dentre elas: beleza, ferocidade, intensidade, bravura, coragem, instinto, independência, liberdade, orgulho, realeza e astúcia.
     
  Observe a primeira estrofe do poema de Blake denominado "O Tigre":

"Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?"


     Quando Blake menciona tigre, ele não está retratando o animal literalmente, mas o que o animal simboliza. Vejo que, quando Blake se refere ao tigre, ele, na verdade, está se referindo ao próprio ser humano e aos seus instintos animalescos de tigre.

         

     Para o psicólogo Jung, o inconsciente coletivo é repleto de imagens próprias, conceitos que se repetem e "arquétipos". Arquétipos são modelos autônomos presentes no inconsciente coletivo, "personagens" e figuras que servem para representar situações e pessoas ao longo do tempo. Por exemplo, há arquétipo para a figura da morte, de herói, de velho sábio e etc.

    O arquétipo do tigre está vinculado tanto à força bruta quanto à coragem. Sempre nos perguntamos o porquê da existência do mal se Deus é bom. De onde vieram os nossos instintos mais animalescos? De onde vieram nossos instintos de tigre? Será que o instinto é sempre ruim?

"Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos ?
Sobre que asas se atreveu a ascender ?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?"


           

   O ser humano é um ser dual, construído através do bem e do mal. Quem não aceita sua dualidade e não mergulha no autoconhecimento para descobrir suas virtudes e seus vícios, corre o risco de enlouquecer ou de tornar-se hipócrita, enxergando apenas o mal nos outros, mas nunca reconhecendo a própria sombra interior.
   A partir do momento que eu enxergo o mal em mim, eu passo a ter a consciência da minha própria sombra e posso levar luz a ela. Assim, acabo me transformando numa pessoa melhor e até mais bondosa, pois passo a ter as ferramentas para lapidar os meus vícios e exaltar as minhas virtudes, sendo mais generosa com o próximo e mais solidária na medida em que eu terei a consciência de que não sou melhor ou pior do que ninguém e que os erros dos outros podem ser perdoados, pois eu também poderia errar, eis que tenho em mim tantos vícios.
       Engana-se quem pensar que o processo de iluminação é um caminho para a santidade ou para a opressão dos nossos vícios, como a igreja pregou no passado ao defender a automutilação e o sofrimento para depurar pecados e ao perseguir pessoas consideradas "más" na inquisição com o intuito de enforcar ou queimar tais pessoas. O ser humano, com exceções de raríssimos e especiais seres de altíssima luz, não é capaz de ter santidade. Mas somos capazes de usar ferramentas e de optar pelo bem.
                     
            O caminho da iluminação está em olhar sem medo para o mal e tentar domá-lo, equilibrando a nossa luz e a nossa sombra. Quanto mais se oprime um monstrinho, mais ele cresce. E crescer na inconsciência é perigoso. Os atos maus são frutos da ignorância daquele que nunca conheceu e nunca soube trabalhar o próprio mal. Ao contrário dos animais, Deus deu consciência ao ser humano para que nós tenhamos a capacidade de agir com as ferramentas e ter domínio próprio.

        Nessa imagem, o arcano 11 do tarô, a força, ensina-nos que a verdadeira força está em domar a fera interior, aqui representada por um leão, mas que carrega o mesmo simbolismo do tigre. A moça aparentemente frágil e doce parece ter domínio sobre a boca do leão, e ele a obedece. Ele não vai ataca-la ou atacar outros, mas a sua força será direcionada e trabalhada para o bem e de acordo com a vontade da moça que representa a consciência e a virtude.

   Os grandes males psicológicos provêm da perda da conexão entre inconsciente e consciente. Deste modo, a pessoa se sente frágil, não consegue usar as forças animalescas primárias para se impor, para dizer não quando necessário e para ter força para lutar quando for preciso.

  A nossa alma é como o tigre do poema de Blake que precisa ser domada através da luz da consciência. Para nossa defesa, é necessário que tenhamos garras, mas as garras devem ser usadas para o bem com um propósito elevado. A força de um tigre aliado a um bom coração será capaz de maravilhas, e é preciso ter  fé.

"Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?"


  O Grande Arquiteto do Universo conhece todas as simetrias e ele deu ao ser humano consciência. Através da consciência, poderemos usar as ferramentas e lapidar nossos instintos sempre da melhor forma possível.

Abraços,

Taty.

http://tatycasarino.blogspot.com.br/

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