Nunca vai ser a roupa o problema

terça-feira, 1 de abril de 2014
   Semana passada eu tinha escrito um crônica sobre sensibilidade, mas por motivos que eu não sei explicar, não consegui publicá-la. Já avisei a querida Fernanda e agora estou de volta. Achei porém que o tema já tinha se tornado antigo e resolvi escrever sobre algo que está mais latente no momento: o conceito de violência. 

   Eu não consigo, nem quero, nem devo acreditar que estamos, em Março/Abril de 2014, discutindo sobre o estupro. Existem vários assuntos que eu considerava obviedades, mas minha mãe ensinou que "o óbvio não é, de fato, óbvio", pois temos todos opiniões diferentes sobre diversos assuntos. Alguns deles, porém, eu acreditava que fossem unânimes.

   Imaginem que estou cansado, depois de trabalhar o dia todo, e sento no sofá para ver um filme. Minha mulher me diz para que me levante, pois temos compromissos sociais (insira o que quiser o leitor: festa da firma, batizado do bebê, aniversário da avó etc). Ela pode dar uma ordem ou pode fazer um pedido. 

   A ordem denota uma posição de liderança, que em um casal com relacionamento saudável alterna-se entre um e outro. A ordem exige uma resposta e, na maioria das vezes, uma resposta imediata. O pedido não. O pedido pode ser atendido ou não. Os pedidos, os desejos, as vontades ficam em outra esfera do relacionamento. Atende-se os pedidos, faz-se as vontades no intuito de agradar o outro e nesse agradar agradar a si próprio por conseguir fazer o outro feliz. (Até que o tema sensibilidade não ficou tão de fora assim, não é?)

 A ordem é mais violenta que o pedido? Pode-se dizer que sim, mas dependendo do ambiente ainda estão muito próximas. Um chefe, por exemplo, ordena, na maioria das vezes, pela sua própria condição de chefe. (Também poderíamos falar - e concordo com isso - que um bom chefe não ordena, mas guia. Não vou entrar nesse mérito para não atrapalhar o raciocínio) A ordem é, sem dúvida, mais perigosa que o pedido, pois ela pode envolver a raiva. Essa raiva, se não tratada, pode levar ao ódio e à agressão. 

 Chegamos agora a uma seara complicada. Na minha opinião, não existe estupro consensual. Existe estupro. Estupro é uma violência, é um sexo forçado, é um toque forçado, algo que desvirtua o sexo. Não é a roupa que provoca, não é a "facilidade" da moça ou do moço que provoca, não é o "tesão do proibido" que provoca, é a desumanização do estuprador que provoca. Um estuprador não merece ser chamado de animal, porque isso não ocorre entre os animais. O estuprador é um monstro que viola não só a liberdade, a vontade da vítima, mas viola sua vida como um todo. Uma vítima nunca mais vê a vida do mesmo jeito. Se for desconhecido, é monstro. Se for marido, irmão, pai, padrasto, é mais monstro ainda. 

 Nunca vai ser a roupa o problema. Nunca vai ser a roupa o problema. 
 O problema é o monstro, o problema é o estuprador. 

Nesse momento tenho vergonha de ser homem e ter que dizer algo tão óbvio como isso. Essa pesquisa me deixou triste, um pouco mais amargo e incrédulo talvez. Não deixo, porém, que esses sentimentos me consumam. Ver a reação, ver a campanha das mulheres (e homens) no facebook tudo isso me dá esperanças. 

Ninguém está pedindo para ser estuprada. Estupro é violência e violência não se pede, se combate. 

Peço desculpas por trazer à baila um tema tão pesada, mas acho extremamente necessário que no momento atual pensemos sobre isso.

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