(Des)Governada

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015



Naquele momento de ira descabida,
em que perdera o domínio de si mesma,
sentiu-se como Faetonte.

Almejou guiar os cavalos
de seu inconsciente inato,
mas eles eram tão desgovernados
quanto o carro de Apolo
nas mãos de Faetonte desventurado.

 Ó Júpiter, celestial Zeus,
conceda-me rédeas!
Sem o governo d'alma,
conhecerei trevas!

Ensina-me a guiar
os cavalos d'alma.
Essa ira quente como Apolo
faz o espírito fraquejar.

Há dois cavalos
acoplados em um carro.
Um é branco, o outro preto,
e não há rédeas.

Sou o destemido arcano sétimo
do tarô de Marselha.
Para onde vou?
Onde eu estou?

Esquerda ou direita?
Direita ou esquerda?
Qual cavalo devo seguir?

O branco quer ir à direita,
e o preto quer ir à esquerda.
Porém, tento com força descomunal,
trilhar o caminho do meio.

Ó vale limítrofe,
dessa insanidade triste,
conceda-me o equilíbrio.

Que os opostos de minh'alma
se casem hoje, ó emoção!
O brilho nasce da junção,
Ó equilíbrio!

 Tatyana A.F Casarino

                                

Esta minha poesia, inspirada no mito de Faetonte, procura unir alegorias mitológicas ao universo subjetivo poético e à psicologia. Quantas vezes nós nos sentimos indecisos, sem saber onde ir? Quantas vezes a nossa ira descabida nos deixa sem as rédeas de nossa alma? Quantas vezes nós lamentamos os momentos em que nossas atitudes não estiveram em simbiose com nossos princípios? Muitas vezes, não é?
Quando afirmamos: "A ira me cegou" ou "Eu estava fora de mim naquele momento", estamos afirmando que nós estávamos "desgovernados", ou seja, sem as rédeas de nossas próprias ações, sem autocontrole e que fomos escravos de nós mesmos.
Libertar-se é equilibrar-se, exercitar o autoconhecimento e liderar nossas próprias atitudes, sem nos envenenarmos com nossas próprias emoções exacerbadas. Quando se percebe que minutos de descontrole emocional podem realmente destruir uma vida, nós nos tornamos mais cautelosos em relação às nossas próprias atitudes.
Mas, essa cautela tem de ser a mola propulsora de exercícios diários de conscientização acerca do que sentimos. Logo, devemos sempre estar em sintonia com as nossas emoções e perceber o que nos provoca, o que nos deixa irados e também o que nos deixa felizes para termos prudência diante de nossas fraquezas e usufruirmos diante daquilo que nos faz bem.
Por que eu escolhi fazer alusão ao mito de Faetonte no meu poema? Porque Faetonte, no mito, não consegue governar o carro de seu pai, e o fato de o carro do sol ficar desgovernado coloca em risco a vida da natureza, a qual quase acaba em chamas. Júpiter(Zeus), o pai dos deuses, teve que arrancar Faetonte do carro de Apolo para que a sua audácia não prejudicasse a natureza.
Desse modo, podemos fazer uma analogia entre esse mito e o nosso descontrole emocional, pois, quando não conseguimos "governar" nossas próprias ações, colocamos em risco o curso de nossa própria vida. Por causa disso que citei o mito. Na psicologia, há quem afirme que nosso inconsciente é como se fosse um "cavalo" que precisa ser domado.
No âmbito místico, o arcano sétimo do tarô, o Carro, revela um homem em movimento, o qual dirige uma espécie de carruagem que possui dois cavalos. Esses cavalos parecem ir em direções opostas, porém, se o homem souber comandá-los corretamente, irá onde desejar com prosperidade. Esse arcano ainda pode significar progresso sobre o que se deseja. Para finalizar, nós devemos agir com equilíbrio e prudência e exercitar sempre o autocontrole para não nos sentirmos "desgovernados".

Bibliografia:

*O Livro De Ouro Da Mitologia, Histórias de Deuses e Heróis. Autor: Thomas Bulfinch. Ed: Ediouro.

*Curso Completo De Tarô. Autor: Nei Naiff
Abraços,
Taty Casarino

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