Heterônimos e o poeta ator

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

                                      
       
     Ao contrário de pseudônimos (falsos nomes que ocultam a verdadeira identidade do escritor ou poeta), os heterônimos constituem uma personalidade diferente do escritor, uma espécie de "personagem" inventado por este que compartilha textos baseados em ideias e sentimentos que, muitas vezes, não pertencem ao próprio criador. O criador do heterónimo é chamado de "ortônimo. Sendo assim, o autor assume outras personalidades como se fossem pessoas reais e escreve segundo essas. Os heterônimos de Fernando Pessoa, por exemplo, nem sempre exprimiam aquilo que ele acreditava.
 
   Em muitos de meus próprios poemas, há sentimentos retratados que não são meus, mas de meus personagens. O poema, muitas vezes, é um desabafo e uma expressão artística de nossos próprios sentimentos. Outras vezes, o poema é simplesmente arte, tocando a dramaturgia, e por que não tentar retratar outras sensações, sensações até desconhecidas? Como diz Pessoa, o poeta é um fingidor...
         

      É bom brincar com o viés lúdico, ser poeta também é ser ator. É incrível poder mergulhar em outros universos, descobrir como pode ser a vida vista sob o ponto de vista de outras mentes, outras, opiniões outras almas. O ilustre poeta Fernando Pessoa costumava dizer: "Ter opiniões é estar vendido a si mesmo. Não ter opiniões é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta".
   O maior e mais famoso exemplo da produção de heterónimos é do poeta português Fernando Pessoa. Ele criou os heterônimos Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, entre muitos outros. Também criou o semi-heterônimo Bernardo Soares.
                        

   Outro caso que pode ser citado é o do autor Stephen King, que criou o heterônimo Richard Bachman. Este possuia uma personalidade mais pessimista, e seus trabalhos apresentavam mais cenas de violência mais detalhadas.
 
  Não somos uma pessoa só, não somos apenas o que parecemos. Podemos conviver com várias "personalidades" dentro de nós, e isso não é loucura hehehe. Isso é libertação. Libertação das dogmas que nos prendem em um sentido só. A nossa essência é única, mas pode se manifestar de diversas formas. A mulher, por exemplo, experimenta isso na vida. Ela, muitas vezes, tem de conciliar a mulher-mãe, a mulher-namorada, a mulher-profissional, a mulher-menina, a mulher-mulher e tem de conviver com muitas faces, sentimentos, pensamentos e desejos múltiplos dentro de si mesmo. Seu caráter pode ser único e sua essência coesa, mas, para sobreviver, atuamos em várias "personas" sem que isso possa ser percebido.
   O poeta percebe. E, por isso, escreve. E sua escrita nada mais é que o reflexo da vida.
 
Taty Casarino
 
tatycasarino.blogspot.com
 
 

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