Bailarina Lunática

quinta-feira, 28 de agosto de 2014
"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."Friedrich Nietzsche




Bailarina Lunática

Eu tenho gestos delicados
como uma bailarina,
meu andar é delicado
como uma bailarina.

Mas, além de minha delicadeza,
há um coração selvagem
que grita por rebeldia,
proclamando uma utopia.

Além dos meus passos coreografados,
há um coração descoordenado,
que chora pelo mundo,
porque sonhou demais com o amor.

O amor não floresceu,
e a sociedade é um jardim infértil,
assolado por guerras e injustiças.

Vivemos de folhas secas,
miséria e ganância,
caos e luta,
fome e arrogância.

Eu escuto o som do paraíso,
então eu não consigo dançar
a música do comodismo,
que é mundano e insano.

A glória de ouvir a melodia dos céus,
traz a incompreensão social.
Se, para cada glória, há uma condenação,
os paradoxos tecem meu destino.

Eu sou uma bailarina que dança
aquelas músicas que não podem ser ouvidas.
Eu sou a bailarina delicada
que tem uma alma selvagem que beira à anarquia.

Você pode ver meu mundo
através das minhas lágrimas.
Você pode escutar minha música
através do meu sorriso.

Não descobri como eu consigo ser
tão selvagem e tão delicada.
Até mesmo na minha bondade,
há profundidades que beiram à selvageria.

E, até mesmo no meu lado mau e obscuro,
há uma vela delicada e flamejante,
que sorri na linha do trem
entre meu ego e o éter.

Eu quero me dissolver
na água do mar de Deus,
mas eu também quero personificar
uma gota do oceano e viver
revestida por esta carne.

Eu sou insana por ouvir
a música do amor
em uma terra sem flor.

Eu não consigo dançar
igual às outras bailarinas,
meus passos apontam direções contrárias,
e o mundo brinca de cabo de guerra comigo.

Todos nós somos iguais,
porque todos nós temos os mesmos sentimentos,
se o mundo valorizasse a emoção,
iluminada e gloriosa seria a razão.

Um menino do Tibete
chora como um velho de Nova York.
Uma menina de Paris
sorri do mesmo modo que uma senhora argentina.

Todos nós somos feitos
de sorrisos e lágrimas,
suor, sangue e paixão.

Mas, a sociedade
oprime a voz da lua,
ofusca a luz do sol,
impondo uma coreografia fria a todos.

Eu não danço e jamais dançarei
as coreografias impostas.
Eu apenas danço conforme
o som de minh'alma.

Eu danço sob a luz da lua,
então, eu sinto as minhas asas,
que não podem ser cortadas
quando há amor.

Eu danço um som diferente,
que está latente no meu coração,
lunática talvez eu seja,
mas para sempre bailarina.


Poema escrito por Tatyana Casarino
*Gravura: Prima Ballerina ou A Primeira Bailarina, cerca de 1878, Museu de Orsay. Obra de Edgar Hilaire Germain Degas (Paris, 19 de julho de 1834 — Paris, 27 de Setembro, 1917). Edgar foi pintor, gravurista, escultor e fotógrafo francês. Ele é considerado um dos fundadores do impressionismo.


Excelente semana a todos! :)

Abraços,

Taty Casarino






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