O que é poesia?

quinta-feira, 17 de julho de 2014

  A poesia faz parte de um gênero literário conhecido pela composição em versos de modo estruturado e harmonioso, sendo considerada uma arte e uma manifestação de beleza através das palavras. Nisto, vale citar a famosa frase de Edgar Allan Poe: "a poesia é a criação rítmica da beleza em palavras."
 

  Em sentido figurado, a poesia também é tudo aquilo que comove, despertando sentimentos, inspirando e encantando através do sublime e do belo. Há elementos formais que compõem um texto poético: o ritmo, os versos e as estrofes, os quais definirão a métrica de uma poesia. A métrica é caracterizada pela utilização de recursos literários específicos que diferenciam o estilo de um poeta.
  Entretanto, após o modernismo, o autor passou a ter mais liberdade para definir seu próprio ritmo e criar as suas próprias normas. Nesse contexto, encontram-se em diversas poesias os versos livres, os quais não seguem métrica. O autor também possui autonomia para compor um texto poético não constituído por versos, caracterizando a poesia em prosa, desde que produza harmonia, ritmo e transmita o elemento emotivo inspirador.
  A rima, um dos elementos mais conhecidos da poesia, consiste numa homofonia externa constante da repetição da última vogal tônica do verso e dos fonemas que eventualmente a seguem. Salienta-se que a palavra "homofonia" vem do grego antigo e significa "mesmo som".

   Eis abaixo um exemplo de rima interpolada ou intercalada, onde o primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro:

"Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco."*

*Psicologia de um vencido de Augusto dos Anjos.

Este tipo de rima é frequentemente usada em sonetos.

 Dentre outros tipos de rimas classificados pela língua portuguesa, cabe ressaltar a existência dos versos brancos ou soltos, ou seja, aqueles que não possuem rima. Eis abaixo um exemplo de versos brancos:

"A rosa com cirrose,
a anti-rosa atômica.
Sem cor, sem perfume,
sem rosa, sem nada."*

*Rosa de Hiroshima de Vinícius de Moraes.



  Outro recurso bastante interessante presente na poesia é a "licença poética". Esta consiste em permitir incorreções de linguagem na poesia a fim de que o escritor tenha a liberdade de manipular as palavras, transmitindo seus pensamentos e sentimentos ao leitor. Sendo assim, na poesia é permitido extrapolar o uso da norma culta da língua portuguesa para aproximar a linguagem poética ao cotidiano e também para utilizar figuras de estilo que possam assumir o caráter "fingidor" da poesia, de acordo com a famosa máxima de Fernando Pessoa: "o poeta é um fingidor".

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente."

 Segundo Pessoa, por mais que uma poesia seja inspirada num sentimento do poeta, há nos versos uma dor que só a própria poesia sente. Nisto, vale citar o artista Pablo Picasso: "A arte é a mentira que nos faz compreender a verdade".

  O que é mais admirável na poesia é a capacidade que ela tem de tocar a alma humana. A força das palavras combinada à emoção resulta na empatia ilimitada entre o poeta e o leitor, pois, muitas vezes, o poeta torna-se um porta-voz de sentimentos que muitos não conseguem expressar. Por isso, Mário Quintana disse: "Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele."
 Ao escutarmos uma música cuja letra nos identificamos ou ao lermos uma poesia que se assemelha ao que já sentimos, sentimos um profundo alívio de compreensão, porque sabemos que em algum canto alguém já se sentiu como nós ou alguém já relatou um determinado sentimento que julgávamos ser apenas nosso, guardado e incompreendido nos recantos menos visitados as alma.
  Esta é a principal tarefa do poeta: tocar a alma humana, curando seus sentimentos incompreendidos e libertando o ser humano do peso social de ser sempre forte e não admitir os sentimentos por medo de não ser aceito num mundo que preza sempre a praticidade, a racionalidade e a materialidade.
  Para os olhos estritamente práticos, pode ser que a poesia não tenha finalidade útil. Ou que a arte seja mera "perfumaria". Para os olhares mais sensíveis e que conseguem captar a vida com mais profundidade, a poesia tem uma função  importante e rara: a libertação da alma humana através da empatia e o desenvolvimento psíquico em busca da felicidade em ser aquilo que é.
  Em mundo tão materialista como o nosso que preza pelo culto ao corpo, onde as emoções são tão subestimadas e em um mundo onde as aparência prevalecem sobre os sentimentos sobre as verdades, a poesia, sem exagero, pode ter um papel libertador. Libertador, porque, sem sobra de dúvidas, lembra-nos de algo que habita por baixo de toda a carne, que chora,  sorri, se encanta, sofre e que nos faz levantar todos os dias com a esperança de trabalhar por algo melhor: a alma humana.
  Que efeitos maravilhosos a poesia pode ter sobre a sociedade, pois assim que ela traz mais empatia e sentimento, as pessoas passam a respeitar mais umas às outras, a ter mais consideração pelo sentimento alheio, e nada é mais útil à sociedade que trazer conhecimento e valores como a poesia consegue trazer.
   Escrevi uma poesia para retratar a criação poética, a qual consegue "descrever" por meio dos versos os sentimentos, os quais são invisíveis e até então indescritíveis dentro da alma do poeta. Este poema que escrevi se chama "Operação Poética":

Operação poética

 Eis que o vento clama
por folhas que levitam
os versos do poeta.

De uma imagem,
brota um sentimento
belo, mágico e eterno
dentro da alma.

Se o filósofo é parteiro de ideias,
como eternizou o sábio Sócrates,
então o poeta é parteiro de sentimentos.

A caneta é o bisturi,
que rasga o papel
para tatuar o sentimento
que a alma do poeta abriga.

Eis então a simbiose
Formada entre poeta e papel,
o qual passa a ser,
quase sem querer,
o raio-x de sua alma.

Descarga elétrica:
é assim a inspiração.
Vem, repentinamente,
quando o poeta menos espera.

E, atacado pela surpresa
do som dos anjos inspiradores,
o poeta parte para mais uma operação.

O papel é o seu suporte,
e, a caneta, sua varinha de condão,
a qual faz as mágicas de escrever
os versos transportados do coração.

Todo poeta precisa ser mágico
para transformar sentimentos indescritíveis
em versos rimados ou livres.

A inspiração é uma poção secreta
de fórmula desconhecida
que chega, de repente,
para trazer vida a uma nova poesia.

Para ser poeta, é preciso ter:
um coração cheio de sentimentos,
uma alma ultrassensível,
além da habilidade mágica
de descrever o indescritível.

Tatyana A. F Casarino

 Recitei este poema de minha autoria no sarau poético do livro de uma poeta que sou fã: a Ruth Farias Larré.
  Deixo aqui ao final da postagem uma dica do livro de poesias da Ruth que eu recomendo a leitura: Receita de homem e outros poemas.



Os poemas dela têm uma simplicidade e suavidade incríveis, e suas palavras parecem bailar como disse Antônio Augusto Ferreita, advogado e poeta.

"Ruth escreve como quem dança. Seu verso pega ritmo, baila, levita, como na incomparável magia de dançar. Com Ruth, o poema flui, é como canoa que nos leva juntos através do mar, do amor, da vida." Antônio Augusto Ferreira.

 Confira abaixo o poema de Ruth que inspirou o título do livro que reúne seus poemas:

Receita de Homem

As muito feias que me perdoem,
Mas beleza é fundamental.
(Vinicius de Moraes - "Receita de mulher")



Os muito rudes que me perdoem,
mas ternura é fundamental.
É preciso que haja sempre algo de amor em tudo isso.
É preciso que, ao apear em nosso território,
o homem traga os peçuelos pesados de carinho.
Que chegue ousado, pra tomar posse,
mas ciente de que nunca será senhor absoluto.
É preciso, é absolutamente preciso
que o macho seja homem.
Que venha como quem chega ao mais belo campo de batalha
e aceite, na luta, ser dominador e dominado.
Que traga olhos de melancolia
pra despertar os necessários devaneios em horas de não-ser.
Mas que, às vezes, saiba ser um pouco irreverente,
que tenha risos pra rir de vez em quando
e carregue enormes reservas de humor inteligente.
Que, ao som de valsas, de tangos ou milongas,
altivo ou entonado,
seu corpo se incendeie em ritmo e, ao contato do frágil corpo companheiro,
levitem ambos na incomparável magia de dançar.
Que suas mãos conheçam os segredos de todas as carícias
e, nas escuras horas luminosas, saibam caminhar em andanças milagrosas,
provocando avalanches, quedas d'água, terremotos...
Ah, deixai-me dizer-vos que é todo imprescindível
Que também haja um largo peito de aconchego
e fortes braços de abraçar carências.
E, embora não seja de todo carecente, é recomendável
que haja um sombreado de barba numa cara expressiva e benfazeja.
É preciso que ele tenha boca de muito beijar e de belo falar:
de voz intensamente morna, grave, insinuante.
Mas também é muito preciso que tenha ouvidos
de ouvir e de entender.
Que se enterneça ao canto, ao assobio, à melodia,
e à musicalidade da palavra em poesia.
Que ame o céu azul, os verdes campos, os morros,
o sol, a chuva, a lua, as águas cristalinas,
o poderoso mar de eternas vagas.
Que se sinta atraído por novas descobertas
e se disponha a desbravar caminhos.
Que não se queixe nunca de envelhecer na alma,
pois que o espírito jamais pode perder o vigor dos verdes anos.
É, pois, absolutamente necessário que ele saiba suportar
os açoites de todos os minuanos,
quando atacam, sorrateiros, em inesperadas volteadas de coxilhas.
É importantíssimo que o homem seja alto,
alto nos pensares e sonhares.
E capaz de compreender o pensar e o sonhar da amada.
Que seja generoso
E não cultive o azedume das querelas.
Que saiba tão bem pedir como ofertar
o fruto doce do perdão e da harmonia.
E que haja sempre dignidade nos seus passos.
E amor à vida, ao irmão, ao Pai Maior.
É preciso, enfim, que, enlaçando seu destino à bem-amada
e sendo pai, amante, companheiro,
nunca se esqueça de levá-la, às vezes,
numa rede tecida só de enlevos,
para o mágico país dos namorados.

Ruth Larré

 Um grande abraço a todos! Uma semana maravilhosa para vocês e poética também :) hehe.

Taty Casarino

 
 

 
 






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