Álvares de Azevedo

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
                                     



     Álvares de Azevedo nasceu em 1831 em São Paulo e é considerado integrante do Romantismo brasileiro, já que o poeta personificou de forma intensa o espírito que guiava tal escola, tornando-se um dos principais expoentes da geração denominada "Mal do século". Para este poeta e seus contemporâneos, eram necessários o sofrimento advindo das paixões, as lágrimas dos amores impossíveis, a desilusão e a morte precoce como libertação da prisão do corpo à realidade que não permite os sonhos.
      A obsessão de Álvares de Azevedo pela temática da morte começou na infância quando sofreu a perda do irmão mais novo aos quatro anos de idade. Desde então, segundo biógrafos, o menino e futuro poeta jamais conseguiu ser o mesmo, pois adoeceu e entrou em um profundo estado de melancolia, ocasionando a sua saúde frágil.
     Sua frágil constituição física não impediu que seus dons intelectuais começassem a florescer, e ele conseguia se destacar como um aluno de raro brilho desde os primeiros anos de colégio. Como estudante de Direito, destacou-se mais do que qualquer outro em seu tempo, visto que, além de aprender com facilidade, era muito interessado pelo estudo e lia  de forma assídua grandes mestres da filosofia e da literatura.
     Além do raro brilho intelectual, seu talento poético pode ser considerado genial, tendo em vista que o poeta escreve toda a sua obra dos dezessete aos vinte anos. Muito embora Álvares de Azevedo não costumasse frequentar a esfera boêmia de seu tempo, foi essa mesma esfera o maior motivo de inspiração para o jovem escritor influenciado por Byron, Shelley, Keats, Musset, Poe e outros grandes nomes do Mal do Século.
            

     

       Sendo assim, o poeta brasileiro destacou-se por versar sobre o pessimismo, o tédio e a morte. Os versos de amor revelavam também o medo do inatingível, pois retratavam a mulher quase sempre como bela, pura, idealizada e distante. Sabe-se que o poeta brasileiro também teve influência do poeta francês Alphonse de Lamartine cuja poesia era caraterizada pela profunda melancolia, retratando, muitas vezes, o amor e a religião.

      No prefácio da "Lira dos Vinte Anos" de Álvares de Azevedo, nós nos deparamos com uma frase de Lamartine: "Dieu, amour et poésie sont les trois mots que je voudrais seuls graver sur ma pierre, si je mérite une pierre." Tradução: "Deus, amor e poesia são as três únicas palavras que eu gostaria de escrever sobre a minha lápide, se eu merecer uma lápide."


           


 
    A morte do poeta romântico brasileiro assim como a da maioria dos poetas do Mal do Século foi precoce: aos vinte anos e meio após cair de um cavalo e ter como resultado um tumor na fossa ilíaca. O maior poeta da segunda geração romântica deixou uma obra inédita e muito singular, a qual seria publicada posteriormente: "Lira dos Vinte Anos", "Noite na Taverna, Macário", "O Conde Lopo", "O Poema do Frade", "Livro de Fra Gondiciário".

    Segue abaixo um poema de Álvares de Azevedo encontrado em "Lira dos Vinte Anos"

Sonhando


Sufoco nos lábios os hálitos meus!
Não corras na areia,
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma...
De noite, aos serenos, a areia é tão fria...
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
És tão doentia...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor,
Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
Teu pé tropeçou...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou,
Sentou-se na praia, sozinha no chão,
A mão regelada no colo pousou!
Que tens, coração
Que tremes assim?
Cansaste, donzela?
Tem pena de mim!

Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...
O seio gelou?...

Não durmas assim!
O pálida fria,
Tem pena de mim!


Dormia: — na fronte que níveo suar...
Que mão regelada no lânguido peito...
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito!
Nem um ressonar...
Não durmas assim...
O pálida fria,
Tem pena de mim!


Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
Não durmas no mar!
Não durmas assim.
Estátua sem vida,
Tem pena de mim!


E a vaga crescia seu corpo banhando,
As cândidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
Nas vagas sonhando
Não durmas assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu...
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
Nas águas do mar
Não durmas assim...
Não morras, donzela,
Espera por mim!

Álvares de Azevedo




Uma ótima semana e até a próxima quinta-feira, pessoal!

Abraços,

Taty Casarino.

http://tatycasarino.blogspot.com.br/
     






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